sexta-feira, 4 de maio de 2012

Lições do Tempo

"Quando fores golpeado pelo tédio, encara. Deixa-te ser esmagado por ele; submerge, bate no fundo do poço. (....) O tédio é a tua janela para o tempo, para aquelas propriedades do tempo que tendem a ser ignoradas, malgrado o provável dano no próprio equilíbrio mental daí decorrente. É a tua janela para a infinidade do tempo, o que significa dizer, para a tua total insignificância. É isto que talvez justifique aquela ansiedade diante à solidão, os tórpidos entardeceres, o fascínio com que se olha uma partícula de poeira girando em um raio de sol, e em algum lugar um tique-taque do relógio, o dia está quente, e a vontade de qualquer coisa é nula. Uma vez que esta janela abrir-se, não tentas fechá-la; ao contrário, escancara-a. Pois o tédio fala a língua do tempo e ele ensina a mais valiosa das lições de tua vida - a lição da tua absoluta insignificância. É importante para ti, assim como para aqueles que estão do teu lado. "És finito", o tempo diz com sua voz de tédio, "e qualquer coisa que fizeres é, do meu ponto de vista, fútil". Como música para teus ouvidos, isto, é claro, pode não soar; porém o senso de futilidade, da limitada significância mesmo das tuas mais ardentes ações, é muito melhor do que a ilusão de importantes consequências e auto-engrandecimento. Pois o tédio é a invasão do tempo no teu conjunto de valores. Ele põe tua existência em perspectiva e o resultado líquido é precisão e humildade. A primeira, deve ser notado, causa a segunda. Quanto mais aprenderes sobre o teu próprio tamanho, mais humilde e mais simpático tornar-te-ás a teus semelhantes, àquela partícula de poeira girando em um raio de sol ou já imóvel sobre tua mesa. Ah, quanta vida foi-se naqueles corpúsculos! Não do teu ponto de vista, mas do deles. És para eles o que o tempo é para ti; e é por isso que eles parecem tão pequenos. E sabes o que a partícula de pó diz quando está sendo varrida da mesa?

'Lembre-se de mim', sussurra a poeira."


Joseph Brodsky
(Traduzido livremente de "In praise of Boredom", em "On Grief and Reason", pg 110)