segunda-feira, 28 de maio de 2012

Felicidade em armas

"Pretende a tradição bíblica que a felicidade do primeiro homem antes de sua queda consistia na ausência de trabalhos; isto é, na ociosidade. O homem decaído conservou o gosto da ociosidade, mas a maldição divina pesa sempre sobre ele, não somente porque deve ganhar seu pão com o suor de seu rosto, mas também porque sua natureza moral lhe interdiz de comprazer-se na inação. Uma voz secreta nos diz que seríamos culpados abandonando-nos à preguiça. Se o homem pudesse reencontrar um estado em que, conservando-se ocioso, sentisse que é útil e que cumpre seu dever, encontraria nesse estado uma das condições da felicidade primitiva. Ora, toda uma classe social, a dos militares, goza precisamente desse estado de ociosidade imposta e não censurável. Essa inação forçada, legal, sempre foi e sempre será o principal atrativo do serviço das armas."

Leon Tolstoi
(Em "Guerra e Paz", tradução Oscar Mendes, Itatiaia 1997, pg 505)