segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Progresso Invisível

"O progresso filosófico é invisível porque ele acaba sendo incorporado no nosso modo de ver o mundo. O que foi tortuosamente garantido por argumentos complexos transforma-se em intuição amplamente compartilhada, em algo tão óbvio que esquecemos sua origem. Nós não o vemos porque nós vemos com ele."

Rebecca Goldstein
(Traduzido livremente de "Plato at the Googleplex", Kindle edition, página 14)




sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Pancadas que merecem ser tomadas

"Acredito que só devemos ler os livros que nos mordem, nos espicaçam. Se o livro que estamos lendo não causa a sensação de uma pancada na cabeça, por que lê-lo?"

Philipp Roth
(Em entrevista à Folha de São Paulo)

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

O jogo da vida

"A vida é um jogo com muitas regras mas sem nenhum árbitro. Aprendemos a jogar olhando a partida e não consultando livros, nem mesmo se tratar-se do livro sagrado. Não é nenhuma surpresa então que tantos joguem sujo, tão poucos vençam, e muitos percam tudo."

Joseph Brodsky
(Traduzido livremente de "On Grief and Reason", Kindle Edition, pg 118)

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

A arte está na origem

"Quanto mais substancial for a experiência estética de um indivíduo, mais refinado será seu gosto, mais afiado seu juízo moral, mais livre - apesar de não necessariamente mais feliz - ele será."

Joseph Brodsky,
(Traduzido livremente da sua Nobel Lecture, "Uncommon Visage" - "On Grief and Reason", Kindle edition, pg 42)

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Desperdícios tautológicos

"Não importa se você é um escritor ou um leitor, sua tarefa consiste acima de tudo em conhecer profundamente uma vida que é a sua própria, que não lhe é imposta ou prescrita de fora, seja ela mais ou menos nobre. Pois cada um de nós recebe apenas uma vida, e todos nós sabemos muito bem como ela termina. Seria lamentável se você decidisse gastar sua única chance buscando a aparência de um terceiro, a experiência de um outro, mesmo pela redução ou expansão desta única chance em uma tautologia, não importa, os  mensageiros da necessidade histórica, dos quais os brados levam os homens a concordar com estas tautologias, não irão para o túmulo com você, nem mesmo lhe agradecerão no final".

Joseph Brodsky,
(Traduzido livremente da sua Nobel Lecture, "Uncommon Visage" - "On Grief and Reason", Kindle edition, pg 40)

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

O que faz um homem livre

"Talvez nosso maior valor e maior função seja inconscientemente corporificarmos a ideia desencorajadora de que um homem liberto não é um homem livre, de que a libertação é apenas um meio para se atingir a liberdade e não é sinônimo de liberdade. Isto sublinha a extensão do dano que pode ser feito à espécie, e podemos nos sentir orgulhosos por cumprir este papel. Entretanto, se quisermos cumprir um papel ainda maior, o papel de um homem livre, então devemos ser capazes de aceitar - ou ao menos imitar - a maneira em que um homem livre fracassa. Um homem livre, quando fracassa, não culpa ninguém."

Joseph Brodsky
(Traduzido livremente de "On Grief and Reason: Essays", ensaio 2, "The condition we call exile", pg 30, Kindle Edition)

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

As duas irmãs do saber

"Tenho uma só desculpa, mas a considero legítima: o dever que se impõe aos homens de ciência, hoje mais do que nunca, de pensar a sua disciplina no conjunto da cultura moderna, para enriquecer não só os conhecimentos tecnicamente importantes, mas também as ideias provenientes de sua ciência que eles possam tomar por humanamente significativas. A própria ingenuidade de um olhar novo (como o é sempre o da ciência) pode talvez esclarecer, como a luz de um novo dia, problemas ancestrais."

Jacques Monod
(Em "O Acaso e a Necessidade", como citado por Marcelo Leite em sua coluna de anteontem na Folha online)

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Smile to life around you and carry on

"De lá não se sai. Nunca. Nem mesmo a luz do sol se vê. Nunca. As vidraças são cobertas de celofane negro. De fora não se deve ver nada. As janelas são sempre fechadas, no verão ou no inverno. É preciso fazer o mínimo de ruído. No ar, sobe e desce a fuligem produzida pelo algodão que passa  incessantemente pelas máquinas. Parece neve. Encontra-se em flocos sobre as máquinas de costura, no chão, sobre as roupas. Mas também nos cabelos dos operários, sobre suas peles. Respiram-no 24 horas por dia. Nas fábricas da maior Chinatown da Europa, os chineses vivem. São lugares inacessíveis aos outros. Monitorados de fora por câmeras de vídeo em circuito fechado. Se vocês baterem na porta, ninguém abrirá. E mesmo assim é possível escutar o trabalho frenético das pessoas. Se baterem com mais insistência, o maquinário desacelera, o rumor diminui. De trás verão surgir um grupo de dois ou três chineses. Não conseguirão entender bem de onde saem. Eles não farão nada, só lhes observarão. E continuarão a observar-lhes enquanto vocês não forem embora. Em alguns casos lhes acompanharão e lhes conduzirão para fora até que vocês estejam suficientemente longe.

Nós participamos de um blitz noturno do comando provincial da Guardia di Finanza de Prato. De 6500 companhias têxteis, 3500 são chinesas. Entre a noite e o dia, não há diferença para eles. Aqui trabalha-se sempre, não existem turnos, festividades, dias de repouso, doença. Ao menos não para os novos escravos chineses. Os chefes, ao contrário, fazem a festa com a Mãe China. Durante o carnaval, ficam por lá por um mês inteiro. Chegam na fábrica em Porsches, levam consigo malas cheias de dinheiro. Depois vão embora. É passado das duas da madrugada quando os funcionários da Guardia di Finanza bloqueiam duas fábricas. Encontram-se na periferia da cidade. Há muitos locais de trabalho, um ao lado do outro, montanhas de tecido. Quando entramos, estão virados de costas. Todos ao trabalho. Por um dos perímetros do pavilhão, há placas de reboco com uma porta de madeira no centro. São os "locais". Ao invés de parecerem quartos, lembram mais nichos de cemitérios: pequenos, estreitos, baixos, sem ventilação. Alguns não possuem nem mesmo uma entrada de luz. Ou então são feitos de pedaços de papelão. Aqueles mais desintegrados estão escondidos. Cada pavilhão esconde um espaço intermediário que leva ao andar superior. No nosso caso, uma estante de livros falsa escondia o acesso às escadas. O que se vê lá é algo de brutal. Seres humanos amassados uns contra os outros entre paredes de papelão e um piso de asbesto. De dentro de um armário de três pés apoiado em uma parede do corredor partem ruídos. Pensando que se tratavam de ratos, abrimos o armário para encontrar um jovem dormindo. Está tão encolhido pelo pequeno espaço e aturdido pelo pouco oxigênio que não consegue se levantar. Muitos deles se deitam vestidos. Devem estar operativos, sempre. Prontos a trocar de turno. Não há serviços higiênicos para todos. Há somente um banheiro por andar. Deve servir a cerca de trinta pessoas. Ao lado de cada colchão (sem rede, mas apoiado no solo) há penicos para se urinar e fazer as necessidades. Comem em um ângulo onde a ausência de janelas contribui para deixar tudo gordo e negro. As paredes são untadas e em torno dos sacos de alimentos (sobretudo arroz e ovos)  há um tipo de cola negra. Explicam-nos que serve para capturar as baratas. Não há portas. Substituíram-nas por véus, lençóis, telas. No chão, entre um quarto e outro, há tábuas de compensado com cerca de um metro de altura. Servem para impedir os ratos de passar para onde estão as crianças. 

É sim, as crianças. Fazem a mesma vida dos pais. Aqueles com maior sorte vão à escola. Os outros trabalham na fábrica. Bem ao lado de um maquinário, tenta cochilar uma menina de viso meigo. Está sentada em meio ao leito, sem sono. Com o ruído das máquinas em ação é difícil de ouvir o vizinho falar. Mas pedimos à mãe quantos anos tem. Não entende o italiano. A menina sim. Alça as mãozinhas e forma o número 8. Tem oito anos. Nos dois pavilhões que cruzamos saem tantíssimos deles. Todos muito pequenos. Uma delas fala italiano. A luz da câmera de vídeo se acende. Conta-nos de ir à escola pela manhã. O resto do dia passa na fábrica com os pais. Prato, Itália... para ela é aquele quarto de papelão e a estrada que faz para ir à escola. Os chineses em Prato, como em Florença ou em Livorno são tidos como os novos patrões. Mas daqueles que chegam em Ferrari ou pagam as contas dos hotéis super-luxuosos com maços de dinheiro em espécie, ou compram prédios inteiros no centro com sacos cheios de euros, destes esta gente não sabe nada. Sabem apenas que produzem uma coisa que chamam "pronto moda". Não tem nada do pret à porter das grandes marcas. E talvez nem mesmo saibam que eles mesmos são os novos escravos do terceiro milênio. Não sabem que produzem um volume de negócios estimado em 400 milhões de euro ao ano enviados à China e dos quais não vêem nem mesmo os farelos. Sobre uma mesa notamos uma espécie de livro contábil. Os agentes da Guardia di Finanza dizem que são as encomendas e os vencimentos para a entrega. Está escrito em chinês. Mas entendemos os números. Quando estávamos ali eles trabalhavam em um vestido para o próximo verão. Sobre o peito estava escrito, bem grande, "Smile to life around you and carry on" (sorria para a vida ao teu redor e siga adiante). Soa uma maldição, como aquele "O trabalho liberta" na entrada dos campos de concentração nazistas. Ao operário vão 40 centavos de euro por peça terminada. Ninguém sorri, ninguém chama isto de "vida". E há quem, por 40 centavos, deixe a própria pele. E isto aqui na Itália, não na China."

Antonio Crispino
(Traduzido livremente de sua coluna de hoje no Corriere della Sera) 

7 chineses morreram neste final de semana em um incêndio em um dos pavilhões da Chinatown localizada na cidade de Prato, na Toscana. Abaixo o video sobre a reportagem especial do Corriere.  

domingo, 1 de dezembro de 2013

Epistemologia prática: antes, saiba onde você quer morar

"Não há motivo algum para se conhecer bem um lugar se você não for habitá-lo."

Joseph Brodsky
(Traduzido livremente de "On Grief and Reason: Essays", cap. 1, seção VII, Kindle Edition)

terça-feira, 26 de novembro de 2013

O Tédio diante da verdade

"Hoje, a "verdade" se proclama visível. O Google tem todos os sentimentos catalogados, mas falta-nos sentir o gosto de alguma coisa vaga que nunca se atinge. Qual seria a emoção de um "gamer" ao ler: "Enquanto os fundos públicos são desperdiçados em caridade, um sino de fogo róseo soa entre as nuvens"? O jovem teria um tédio infinito. Ninguém quer atingir mais nada. Está tudo aí, classificado."

Arnaldo Jabor
(Em sua coluna de hoje no Estadão)

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

A redundância dos algoritmos burros

"Pessoas não são veículos para a execução de algoritmos, da mesma forma que não são cavalos de espíritos de religiões primitivas. Não se sabe direito como o cérebro funciona e sabe-se que os genes estão mais para registros do que deu certo do que para ordens inquestionáveis. Formas algorítmicas de administrar, controlar, treinar e remunerar o homem o desumanizam, tirando dele o que tem de mais precioso: sua capacidade de pensar."

Luli Radfahrer
(em sua coluna de hoje na Folha Online)

domingo, 24 de novembro de 2013

Palpiteiros de domingo

"Sabemos todos que a História muda segundo quem a observa. Para os contemporâneos dos fatos, a importância que lhes é dada frequentemente é bem distinta da que terá dentro de poucas décadas. O que era invisível aparece, o que não tinha importância a adquire, o que era básico se torna acessório, quem era tratado como gênio ou esperança nem mais é lembrado. E o anedotário de todos os povos armazena uma fartura de previsões hoje estapafúrdias, vaticínios que se demonstraram asneiras descomunais, afirmações definitivas cuja validade mal chegou a aniversariar. Mas isto não impede que continue irresistível a tentação de dar palpites sobre o chamado veredito da História, é uma espécie de jogo que pode até ser divertido, assim para um domingo ocioso, sem nada melhor para fazer."

João Ubaldo Ribeiro
Em sua coluna de hoje no Estadão

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

A favor do tédio

"O primeiro dever dos jovens é o de se tornar velhos"

Benedetto Croce
(como citado por Calligaris em sua coluna de hoje)

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Curta-me!

"No círculo vicioso da inveja, a experiência efetiva é irrelevante; não é com tal ou tal outra vida e história concretas que se sonha: sonha-se ser o que os outros sonham. A inveja é, por assim dizer, uma emoção abstrata: o privilégio não precisa dar acesso a uma fruição especial da vida (sensual ou espiritual, tanto faz), ele só precisa suscitar inveja. Ou seja, privilégio não é o que faço ou o que acontece de extraordinário em minha vida, mas o olhar invejoso dos outros.(...)   O Facebook é o instrumento perfeito para um mundo em que a inveja é um regulador social. Nele, quase todos mentem, mas circula uma verdade de nossa cultura: o valor social de cada um se confunde com a inveja que ele consegue suscitar." 

 Contardo Calligaris
(em sua coluna na folha desta quinta-feira)

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

O rei na barriga de cada brasileiro

"O ministro Joaquim Barbosa tem sido tratado como um Drácula brasileiro por dizer o que pensa e sente. Poi, no Brasil, eis o meu primeiro palpite, somos todos treinados a dizer o que não pensamos. Seja porque seríamos presos por corrupção ou tomados como desmanchadores de prazer; seja porque faz parte de nossa persistente camada aristocrática não confrontar o outro com a tal "franqueza rude" a ser reprimida por sinalizar não o desrespeito, mas um igualitarismo a ser evitado justamente porque nivela e subverte hierarquias. Somos a sociedade da casa e da rua. Em casa, somos reacionários e sinceros; na rua viramos revolucionários e ninjas - a cara encoberta. Somos imperiais em casa, quando se trata das nossas filhas e fervorosos feministas em público, com as "meninas" dos outros. Observo que quando há hierarquia, não há debate nem discórdias; já o bate-boca é igualitário e nivelador. Por isso, ele é execrado entre nós, alérgicos a todas as igualdades. Discutir é igualar, de modo que as reações de Joaquim Barbosa assustam e surpreendem. Afinal, ele é um ministro. Como pode se permitir tamanha sinceridade? O superior não deveria discutir, mas ignorar e suprimir." 

 Roberto DaMatta
(Em sua coluna desta quarta-feira no Estadão)

domingo, 18 de agosto de 2013

Essa rapadura de país

"Diante dessa sarabanda agitada e da luta para não largar o osso, lembro-me de quando eu era menino em Itaparica, punha um pedaço de rapadura no chão e ficava esperando formigas brotarem do nada, várias espécies que só tinham em comum gostar de açúcar. Umas ruças, grandalhonas, eram minhas favoritas, porque ficavam frenéticas e não paravam um segundo, para lá e para cá, em cima da rapadura, apesar de que, volta e meia, uma parecia se saciar e caía imóvel - dura para trás, dir-se-ia. Eu não sabia, mas estava vendo o Brasil, só que as formigas não se saciam e quem cai para trás somos nós."

João Ubaldo Ribeiro
(Em sua coluna no Estadão deste domingo)

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

O mito da ciência

"Meu amigo, não existe conhecimento puro. É indiscutível a legitimidade da concepção eclesiástica da ciência, que se pode resumir nas palavras de Santo Agostinho: "Creio para que possa conhecer". A fé é o órgão do conhecimento, e o intelecto é secundário. A sua ciência incondicional não passa de um mito. Há sempre uma fé, um conceito do mundo, uma ideia, numa palavra: uma vontade, e cabe à razão explicá-la e comprová-la. Em todos os casos, chega-se ao 'Quod erat demonstrandum'. "

Thomas Mann
(Em "A Montanha Mágica", Herbert Caro (trad.), Círculo do livro 1952, pg 480)

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

O que diria Beckett para um representante da nossa classe política?

"Eis aí um grande homem, acusando as botas quando a culpa é dos seus pés."

Samuel Beckett
(Traduzido livremente de "Waiting for Godot", Ato 1)

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Pontos de vista morais

"Frequentemente, como diria Adam Smith, o que é visto como um vício privado pode tornar-se uma virtude pública."

Emrys Westacott
(Traduzido livremente de "The Virtues of our Vices", Princeton Press, 2012, pg 10)

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Linhas estreitas

"Se o idiota persistir em sua folia, tornar-se-á sábio."

William Blake
(Traduzido livremente de "The Marriage of Heaven and Hell", em "Works of William Blake", Kindle edition, Kindle location: 1551)