sexta-feira, 21 de junho de 2013

O Patriota Brasileiro

“O patriotismo é o último refúgio do canalha. No Brasil, é o primeiro”.

Millôr Fernandes
(em algum lugar que esqueci - mas é dele - e em um momento como este não podia deixar de postar)

terça-feira, 11 de junho de 2013

Autoconhecimento à grega

"E esse é o prodígio da vida, que qualquer ser humano que presta atenção a si mesmo sabe o que nenhuma ciência sabe, dado que ele sabe quem ele mesmo é, e isso é o que há de mais profundo na sentença grega 'conhece-te a ti mesmo', que há já bastante tempo tem sido compreendida à maneira alemã, relacionada à autoconsciência pura, a quimera do idealismo. Já está mais do que na hora de se tentar entendê-la em grego."

Soren Kierkegaard
(Em "O conceito de angústia", Trad. Álvaro Luiz Montenegro Valls, Editora Vozes 2010, pg 87)

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Os novos retrógrados

"Algo parecido à redução missionária aconteceu com o advento da web 2.0. Tudo aquilo que é estranho e diferente está sendo dissolvido e extraído da rede em um processo de homogenização. As páginas pessoais, quando primeiro apareceram no início da década de 90, tinham um sabor de individualidade. O MySpace preservou algo deste sabor, apesar do processo de formatação e regularização ter já então começado. O Facebook foi além, organizando pessoas em identidades de múltipla escolha, enquanto que a Wikipedia hoje tenta apagar por completo qualquer ponto de vista. Se uma igreja ou governo estivesse fazendo estas coisas, seriam vistos como autoritários, mas quando tecnólogos são os culpados tudo parece bacana, novo e inventivo. As pessoas aceitam facilmente ideias que pareceriam terríveis se apresentadas de qualquer outra forma, basta que sejam vestidas com o disfarce da tecnologia. É paradoxal ouvir muitos de meus amigos no mundo da cultura digital afirmarem-se os verdadeiros filhos da Renascença, quando ao mesmo tempo usam os computadores para reduzir a expressão individual e passam assim a aderir a uma atividade que é primitiva e retrógrada, não importa quão sofisticados sejam os meios de exercê-la."

Jaron Lanier
(Traduzido livremente do capítulo 3, seção "Nerd Reductionism", de "You are not a gadget", Alfred Knopf, 2010)

domingo, 9 de junho de 2013

Zumbis filosóficos

"Zumbis são personagens comuns nos experimentos mentais dos filósofos. Eles são como pessoas em todos aspectos, exceto que não possuem experiência subjetiva. São inconscientes, mas não dão nenhuma evidência externa deste fato. (...) Muito se debateu sobre se um zumbi poderia realmente existir, ou se a experiência subjetiva deve inevitavelmente revelar-se, seja através do comportamento exterior, seja por algum evento mensurável no cérebro. Eu afirmo que há somente uma diferença mensurável entre um zumbi e uma pessoa: um zumbi tem uma filosofia diferente. Portanto, zumbis só podem ser detectados se eles se passarem por filósofos profissionais. Um filósofo como Daniel Dennett é obviamente um zumbi."

Jaron Lanier
(Traduzido livremente do capítulo 2, seção "Zomby Army", de "You are not a gadget", Alfred Knopf, 2010)

sábado, 8 de junho de 2013

Imprescindível

"Ora, sabem os senhores, sabem que sem o inglês a humanidade ainda pode viver, sem a Alemanha pode, sem o homem russo é possível demais, sem a ciência pode, sem o pão pode, só não pode sem a beleza, porque nada restaria para fazer no mundo! Todo o segredo está aí, toda a história está aí! A própria ciência não sobreviveria um minuto sem a beleza - sabem disso, senhores ridentes? - ela se converteria em banalidade, não inventaria um prego!"


Fiódor Dostoiévski
(Em "Os Demônios", Paulo Bezerra (trad.), Editora 34, 4a edição, 2004, pg 473)

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Irrealidade virtual

"A abordagem 'anti-humana' da computação é uma das ideias mais infundada que a humanidade já teve. Um computador nem mesmo existe se não houver ninguém a experimentá-lo. Haverá lá certamente uma massa quente de silício padronizado com eletricidade por toda parte, mas os bits não significam nada sem uma pessoa culta que os interprete. E isto não é solipsismo. Você pode acreditar que sua mente cria o mundo, e mesmo assim uma bala ainda irá  lhe matar. Uma bala virtual, porém, nem mesmo existe sem que uma pessoa esteja lá para reconhecê-la como uma representação de uma bala. Armas são reais de um modo que computadores não o são."

Jaron Lanier
(Traduzido livremente do capítulo 2, seção "You Need Culture to Even Perceive Information Technology", de "You are not a gadget", Alfred Knopf, 2010)

terça-feira, 4 de junho de 2013

Corrige-te enquanto há tempo!

"Toda a segunda metade da vida de um homem é constituída apenas dos hábitos acumulados na primeira".

Fiódor Dostoiévski
(Em "Os Demônios", Paulo Bezerra (trad.), Editora 34, 4a edição, 2004, pg 264)

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Mesmo no mundo da internet, não há almoço grátis!

"Quanto maior for a automatização da sociedade, quanto mais necessário for que a economia se torne uma economia da informação, e enquanto ao mesmo tempo se defender que a informação deva ser grátis, então na mesma medida mais a economia real irá colapsar. Isto soa muito simplista, e pode ser afirmado com muito mais rigor, mas acredito que fundamentalmente este seja o grande dilema. Os tipos de automatização que podemos esperar para o futuro são táxis e caminhões guiando-se por si mesmos e tirando motoristas do trabalho, a indústria tornando-se muito menos dependente do trabalhador, seja por impressoras 3D ou por outros modos, e assim por diante. Há demonstrações, todos os dias, de tarefas intelectuais antes realizadas por pessoas educadas e que agora são realizados por softwares. O ponto crucial é que cada vez que um software passa a fazer algo que as pessoas costumavam fazer ele o faz baseando-se no que chamamos de "Big Data" e esta "Big Data" nada mais é do que a massa de contribuições de todas as pessoas que estão na rede. Por exemplo, para se realizar uma tradução automática em grandes servidores, traduções feitas por pessoas reais na rede são agrupadas e as frases são correlacionadas com estas para criar uma tradução plausível. Então a inteligência artificial trabalhando nestes "Big Data" é fundamentalmente apenas um modo de "requentar" dados originários de pessoas reais. E por desmonetizar todos estes dados que estão na rede, quanto mais a informação automatizada se tornar importante, mais a economia irá colapsar. Basicamente, toda vez que você usa o facebook, está reduzindo suas chances de emprego para o futuro [risos da platéia]. Isto não deveria parecer engraçado, é um fato que simplesmente se dá de modo muito gradual."

Jaron Lanier
(Em entrevista recente a James Bridle)

domingo, 2 de junho de 2013

Um manifesto

"É só o começo deste vigésimo primeiro século, e isto significa que estas palavras serão lidas principalmente por não-indivíduos - autômatos ou gentalha entorpecida composta de pessoas que não agem mais como indivíduos. As minhas palavras serão debulhadas em máquinas de pesquisa automáticas de palavras chaves, espalhadas em centros de computação localizados em regiões remotas, muitas vezes secretas, ao redor do mundo. Elas serão copiadas milhões de vezes por algoritmos designados a enviar uma propaganda a alguma pessoa em algum lugar que passou a ressoar com alguns dos fragmentos do que eu digo. Elas serão escaneadas, rearranjadas e deturpadas por multidões de leitores rápidos e desleixados em wikis e fluxos de mensagens de texto.

Reações irão repetidamente se degenerar em cadeias estúpidas de insultos anônimos e controvérsias desarticuladas. Algoritmos encontrarão correlações entre aqueles que leem minhas palavras e aquilo que eles consomem, suas aventuras românticas, seus débitos, e, logo, seus genes. Por fim estas palavras contribuirão à fortuna daqueles poucos que conseguiram se posicionar como senhores das nuvens computacionais.

O largo desdobramento dos destinos destas palavras se dará no mundo quase completamente inanimado da informação pura. Olhos de seres humanos reais as lerão somente em uma minoria de casos. E, no entanto é justamente você, a pessoa, a raridade entre meus leitores, que eu pretendo alcançar. 

As palavras neste livro são escritas para pessoas, não para computadores.

E o que eu quero dizer é isso: você precisa ser alguém antes de poder compartilhar a si mesmo."

Jaron Lanier
(Traduzido livremente do Prefácio de "You are not a gadget", Alfred Knopf, 2010)

sábado, 1 de junho de 2013

Agostinho ao ser convidado para criar seu perfil no facebook:

"Que tenho eu a ver com os homens, para que me ouçam as confissões, como se houvessem de me curar das minhas enfermidades? Que gente curiosa para conhecer a vida alheia e que indolente para corrigir a própria! Por que pretendem que lhes declare quem sou, se não desejam também ouvir de vós quem eles são? Ouvindo-me falar de mim, como hão de saber que lhes declaro a verdade, se ninguém sabe o que se passa num homem, a não ser o espírito que nele habita?"

Agostinho de Hipona
(Em "Confissões", J. Oliveira Santos (tradutor), Vozes - edição de bolso - 2011, pg 216)