segunda-feira, 10 de junho de 2013

Os novos retrógrados

"Algo parecido à redução missionária aconteceu com o advento da web 2.0. Tudo aquilo que é estranho e diferente está sendo dissolvido e extraído da rede em um processo de homogenização. As páginas pessoais, quando primeiro apareceram no início da década de 90, tinham um sabor de individualidade. O MySpace preservou algo deste sabor, apesar do processo de formatação e regularização ter já então começado. O Facebook foi além, organizando pessoas em identidades de múltipla escolha, enquanto que a Wikipedia hoje tenta apagar por completo qualquer ponto de vista. Se uma igreja ou governo estivesse fazendo estas coisas, seriam vistos como autoritários, mas quando tecnólogos são os culpados tudo parece bacana, novo e inventivo. As pessoas aceitam facilmente ideias que pareceriam terríveis se apresentadas de qualquer outra forma, basta que sejam vestidas com o disfarce da tecnologia. É paradoxal ouvir muitos de meus amigos no mundo da cultura digital afirmarem-se os verdadeiros filhos da Renascença, quando ao mesmo tempo usam os computadores para reduzir a expressão individual e passam assim a aderir a uma atividade que é primitiva e retrógrada, não importa quão sofisticados sejam os meios de exercê-la."

Jaron Lanier
(Traduzido livremente do capítulo 3, seção "Nerd Reductionism", de "You are not a gadget", Alfred Knopf, 2010)