domingo, 2 de junho de 2013

Um manifesto

"É só o começo deste vigésimo primeiro século, e isto significa que estas palavras serão lidas principalmente por não-indivíduos - autômatos ou gentalha entorpecida composta de pessoas que não agem mais como indivíduos. As minhas palavras serão debulhadas em máquinas de pesquisa automáticas de palavras chaves, espalhadas em centros de computação localizados em regiões remotas, muitas vezes secretas, ao redor do mundo. Elas serão copiadas milhões de vezes por algoritmos designados a enviar uma propaganda a alguma pessoa em algum lugar que passou a ressoar com alguns dos fragmentos do que eu digo. Elas serão escaneadas, rearranjadas e deturpadas por multidões de leitores rápidos e desleixados em wikis e fluxos de mensagens de texto.

Reações irão repetidamente se degenerar em cadeias estúpidas de insultos anônimos e controvérsias desarticuladas. Algoritmos encontrarão correlações entre aqueles que leem minhas palavras e aquilo que eles consomem, suas aventuras românticas, seus débitos, e, logo, seus genes. Por fim estas palavras contribuirão à fortuna daqueles poucos que conseguiram se posicionar como senhores das nuvens computacionais.

O largo desdobramento dos destinos destas palavras se dará no mundo quase completamente inanimado da informação pura. Olhos de seres humanos reais as lerão somente em uma minoria de casos. E, no entanto é justamente você, a pessoa, a raridade entre meus leitores, que eu pretendo alcançar. 

As palavras neste livro são escritas para pessoas, não para computadores.

E o que eu quero dizer é isso: você precisa ser alguém antes de poder compartilhar a si mesmo."

Jaron Lanier
(Traduzido livremente do Prefácio de "You are not a gadget", Alfred Knopf, 2010)