segunda-feira, 23 de julho de 2012

Sonho de Morte

"Sonhou que estava deitado naquele mesmo quarto, em que repousava naquele momento, mas que, em lugar de estar ferido, achava-se de boa saúde. Muitas pessoas indiferentes e insignificantes desfilavam diante dele. Falava-lhes, discutia com elas a respeito dum assunto sem importância. Dispunham-se elas a partir para alguma parte. O Príncipe André percebia confusamente que tudo aquilo era vão, que tinha em mente preocupações bem mais graves e entretanto continuava a espantá-las falando com espírito de coisas fúteis. Pouco a pouco, imperceptivelmente, todos aqueles personagens começaram a desaparecer e só restou uma questão: a da porta a fechar. Levanta-se, aproxima-se da porta, é disso que TUDO depende. Vai, apressa-se, e seus pés não o transportam, sabe que não terá tempo. E entretanto, tende todas as suas forças, dolorosamente. E uma angústia o constringe. E essa angústia é a da morte: AQUILO está do outro lado da porta. E enquanto que, canhestro e impotente, se esforça por fechá-la, algo de espantoso, do outro lado, faz força e a arromba. Alguma coisa que nada tem de humano - a morte - arromba a porta e vai entrar. Retém ele a porta com todas as suas forças - pois que ela já não pode ser fechada, vai ele pelo menos impedir que a morte entre; mas é demasiado desastrado e demasiado fraco e, sob a pressão exterior tremenda, a porta se abre e depois torna a fechar-se. Um derradeiro empurrão faz-se sentir de fora. Um derradeiro esforço sobre-humano, inútil, e os dois batentes cedem ao mesmo tempo sem ruído. Entrou."

Leon Tolstoi
(Em "Guerra e Paz" - volume II, tradução Oscar Mendes, Itatiaia 1997, pg 381)

domingo, 22 de julho de 2012

A água da felicidade

"Eis o que é, meu caro. O destino escolheu sua cabeça. E estamos nós sempre aí a julgar: isto, isto não está bem, isto é mau. Nossa felicidade, meu caro, é como a água na massa: a gente a arrasta, ela se enche; a gente a tira, ela se esvazia. É assim!"

Leon Tolstoi
(Em "Guerra e Paz" - volume II, tradução Oscar Mendes, Itatiaia 1997, pg 368)

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Quando o homem não presta para nada

"O homem não presta para nada enquanto teme a morte. Tudo pertence àquele que não tem medo dela. Sem o sofrimento, o homem não conheceria os seus limites. Não se conheceria a si mesmo."

Leon Tolstoi
(Em "Guerra e Paz" - volume II, tradução Oscar Mendes, Itatiaia 1997, pg 241)

quinta-feira, 19 de julho de 2012

O que realmente importa

"O que eu realmente preciso é de ser claro sobre o que devo fazer, não sobre o que devo conhecer - exceto na medida em que o conhecimento precede toda ação. Trata-se aqui de entender o meu destino, de compreender o que a divindade realmente quer de mim; trata-se de encontrar uma verdade que seja verdade para mim, encontrar uma ideia pela qual estou disposto a viver e a morrer. E a que serviria se eu descobrisse alguma - assim dita - verdade objetiva? Ou se eu percorresse os sistemas dos filósofos e fosse capaz de apontar inconsistências em cada particular vírgula? E qual seria o uso de desenvolver uma teoria do estado, e colocar todas partes de tantos distintos lugares em um único todo, construir um mundo que, novamente, eu mesmo não o habitasse, mas meramente o erguesse para que os outros pudessem vê-lo? A que serviria ser capaz de propor o significado da cristandade, explicar muitos fatos separados, se isto não tivesse um significado mais profundo para mim e para a minha vida? Certamente não negarei que ainda aceito o imperativo do conhecimento, e que se pode também ser influenciado por ele, mas ele deve ser tomado e tornado vivo em mim, e isto é o que eu agora vejo como o ponto principal. (...) Porém para encontrar esta ideia, ou, mais propriamente, para encontrar a mim mesmo, de nada serviria jogar-me ainda mais no mundo. É isto que não percebi nestes anos, ao levar uma vida completamente humana, não apenas uma vida de conhecimento, evitando basear meu desenvolvimento somente em - sim, em algo que as pessoas chamam de objetivo - algo que no fim não é meu propriamente, mas tentando baseá-lo também em algo que estaria emaranhado com as mais profundas raízes da minha existência, algo através do qual seria como se permeado do divino e ao qual me agarraria mesmo se o mundo inteiro fosse acabar. (...) Isto, veja, é isto o que eu preciso e pelo qual anseio, é uma ação interna do homem, este lado divino do homem, que realmente importa, e não simplesmente um montante de informação. Pois em vão busquei uma âncora externa, não só nas profundezas do conhecimento, mas também no mar sem fim do prazer. O que encontrei? Não o meu "eu", pois isso era o que queria encontrar. (...) Antes de qualquer coisa deve-se aprender a conhecer a si mesmo. E com relação à rotina ordinária dos homens, não ganhei nem perdi nada. Meus amigos exerceram, com poucas exceções, nenhuma influência marcante em mim. E então vejo-me mais uma vez no ponto de partida, onde devo começar tudo novamente. Agora resta-me voltar calmamente para mim mesmo e começar a agir internamente; pois somente deste modo serei capaz de chamar-me "eu" em um sentido profundo. (...) Então que os dados sejam lançados - estou atravessando o Rubicão! Esta estrada sem dúvida levar-me-á à batalha, mas não desistirei jamais!"

O jovem Soren Kierkegaard, escrevendo em seu diário, aos 22 anos.
(Traduzido livremente de passagem de "Papers and Journals", 1 Agosto de 1835, como citado por John Caputo em "How to read Kierkegaard", WWNorton, 2008, pgs 9-10)


quarta-feira, 18 de julho de 2012

Ex-covardes: uni-vos!

"Nelson Rodrigues definiu-se um dia como um ex-covarde. Dizia o sábio Nelson que houve tempos em que também ele seguia a cartilha do medo: o medo que começa nos lares, passa para a Igreja, contamina as universidades e desagua na cultura popular. O medo que os pais sentem dos filhos. O medo dos professores perante os alunos. O medo dos artistas em geral, que preferem obras nulas ou sentimentais - e não a "contemplação carinhosa da angústia", para usar uma expressão da escritora Agustina Bessa-Luís. É esse medo de enfrentar a verdade, por mais difícil e insuportável que seja, que faz com que os homens deixem de ser "indivíduos", no sentido mais nobre da palavra. Para o covarde moderno, melhor diluir a individualidade na estupidez confortável das massas."

João Pereira Coutinho
(Em sua coluna desta segunda-feira no Estadão)

terça-feira, 17 de julho de 2012

Esperança de ação

"Ou o mundo não merece que nos acomodemos a ele. Ou o mundo merece que não nos acomodemos a ele. A esperança não é o fruto da ação. A esperança é a causa da ação."

Roberto Mangabeira Unger
(Em entrevista ao Roda Viva nesta segunda-feira 16 de julho).

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Concepções de vida: o conquistador e o possuidor

"Você afirma ser por natureza um conquistador e não alguém que pode possuir. Ao dizer isto, considero que você não está dizendo nada depreciativo sobre si mesmo; ao contrário, você sente-se maior que os outros justamente por tal ímpeto. Vamos examinar isto com mais calma. O que é mais difícil, escalar uma montanha ou descê-la? Quando a montanha é muito íngreme claramente é descer que requer mais força. Há uma disposição inata em quase todas as pessoas para subir, enquanto a maioria fica apreensiva em ter de descer. Assim também acredito que há um número muito maior de pessoas que são formadas para conquistar do que para possuir. (...) Mas a verdadeira arte, como regra, vai na direção oposta à natureza, sem porém a aniquilar, e portanto a verdadeira arte é a arte de quem possui, não de quem conquista. Em tais expressões podemos já ver como a arte e a natureza são opostas. Uma pessoa que possui, sim, ele também tem algo que conquistou; de fato, em sentido estrito é somente quando se possui que verdadeiramente se conquistou. E assim você também acredita que possui, pois você de fato atinge o instante da posse; mas não há verdadeiramente posse, pois não há uma apropriação profunda. Se fôssemos imaginar um conquistador que conquistou países e reinos, então ele de fato possuiria as províncias que tomou; teria então largas posses; e porém este príncipe da guerra seria descrito como um conquistador e não como um possuidor. Somente quando ele governasse todas essas terras em seus próprios interesses, somente então ele as possuiria. Ora, isto é muito raro em alguém que por natureza é um conquistador; como regra falta-lhe a humildade, a religiosidade, a verdadeira humanidade que é essencial à posse. (...) Para conquistar, é necessário orgulho; para possuir, humildade. Para conquistar, é necessário ser violento; para possuir, ter paciência. Para conquistar, ganância; para possuir, contentamento. Conquistar pede por comida e bebida; possuir por reflexão e abstinência. (...) Na conquista, esquece-se de si mesmo; na posse, tem-se a lembrança constante de si mesmo, não como um passado vazio mas com toda sua possível seriedade. Quando escalamos a montanha, temos apenas o externo em vista; quando descemos, devemos cuidar de nós mesmos, da relação correta entre o nosso ponto de suporte e nosso centro de gravidade." 

Soren Kierkegaard
(Traduzido livremente de "Either/Or: A Fragment of Life", Alastair Hannay (trad.), Penguin Classics 2004, Kindle Location 7710 - Cap. 1 volume II)

sábado, 14 de julho de 2012

Pecar é humano

"Desejar que o pecado não tivesse sobrevindo no mundo é degradar a humanidade a algo menos perfeito. O pecado sobreveio, mas ao reconhecê-lo e ao nos rebaixarmos diante dele, elevamo-nos acima do que éramos antes."

Soren Kierkegaard
(Traduzido livremente de "Either/Or: A Fragment of Life", Alastair Hannay (trad.), Penguin Classics 2004, Kindle Location 7215 - Cap. 1 volume II)

sexta-feira, 13 de julho de 2012

O Truque do Esteta

"A capacidade de se esquecer depende sempre do modo como se lembra, mas isto, por sua vez, depende de como se experiencia a realidade. A pessoa que se joga ao fato cheia de esperança irá lembrar-se de tudo de uma maneira que a impossibilitará de esquecer. Nil admirari é portanto a verdadeira sabedoria da vida. Toda situação de vida deve possuir menos importância que aquela que pode ser esquecida quando assim se quiser; e toda situação de vida deve ter importância suficiente para que se possa dela lembrar quando assim se quiser. Quanto mais poético for o modo em que algo é lembrado, mais facilmente será esquecido, pois lembrar poeticamente é apenas uma expressão de esquecimento. Ao lembrarmos poeticamente, o que foi experimentado na verdade já sofreu uma modificação, de tal modo que toda dor foi perdida. Para lembrar assim, deve-se atentar para o modo em que se vive, especialmente em como se goza o mundo. Se o gozo é sem reservas, se se desfruta sempre de todo o prazer possível até o fim, então será impossível tanto lembrar quanto esquecer. Pois não haverá nada mais para ser lembrado senão uma superfície que se quer esquecer mas que, por sua vez, só golpeará a lembrança com uma memória involuntária. Por isso, quando começares a perceber que estás sendo levado pelo gozo de uma situação além do limite, pare por um momento e tente lembrar. Nada mais poderá produzir gosto tão amargo por teres ido tão longe. É preciso segurar as rédeas do gozo já desde o início e não largar o barco com as velas içadas para qualquer vento que se apresente.  Deve-se manter um certo nível de desconfiança; só então pode-se desmentir o provérbio que diz que ninguém pode ter seu bolo e também comê-lo. Carregar armas secretas é proibido pela polícia, é verdade, mas nenhuma arma é tão perigosa como este truque de ser capaz de controlar a memória. É um sentimento peculiar quando, no meio do gozo, olha-se ao redor com a intenção de se lembrar."

Soren Kierkegaard
(Traduzido livremente de "Either/Or: A Fragment of Life", Alastair Hannay (trad.), Penguin Classics 2004, Kindle Location 3893-3906 - Cap. 6)

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Crimes e Pecados



"Durante toda a nossa vida, enfrentamos decisões penosas, escolhas morais. Algumas delas têm grande peso. A maioria não tem tanto valor assim. Mas definimos a nós mesmos pelas escolhas que fazemos. Na verdade, somos feitos da soma total das nossas escolhas. E tudo se dá de maneira tão imprevisível, tão injusta, que a felicidade humana não parece ter sido incluída no projeto da Criação. Somos nós, com nossa capacidade de amar que atribuímos sentido a um Universo indiferente. E apesar dessa indiferença, a maioria dos seres humanos parece ter a habilidade de continuar lutando e até de encontrar prazer nas coisas simples como sua família, seu trabalho, retendo a esperança de que as futuras gerações alcançarão uma compreensão maior."

Do filme "Crimes e Pecados" (1989) de Woody Allen.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

As pessoas-espelho

"Ainda me não viu; estou na outra ponta do balcão, muito longe, à parte. Na parede oposta está suspenso um espelho; ela não repara, mas o espelho sim. Com que fidelidade soube ele captar a sua imagem; é como um escravo humilde que prova a sua dedicação pela fidelidade, um escravo para quem ela tem importância mas que nenhuma importância possui para ela, que pode ousar compreendê-la, mas não tomá-la. Este infortunado espelho que tão bem sabe captar a sua imagem, mas não captá-la, este infortunado espelho que não pode guardar a sua imagem no segredo do seus esconderijos furtando-a ao olhar do mundo inteiro, mas antes apenas sabe revelá-la a outros como, neste momento, a mim! Que suplício não seria para um homem se fosse assim a sua natureza. E contudo, não é certo que há muitas pessoas que assim são, que nada possuem a não ser no momento em que mostram aos outros a sua posse, que apenas captam a aparência das coisas e não a sua essência, que tudo perdem no momento em que esta se pretende mostrar, tal como este espelho perderia a sua imagem ao primeiro sopro com que ela pretendesse abrir-lhe o coração?"

Soren Kierkegaard
(Em "O Diário de um Sedutor", Carlos Grifo (tradutor), Coleção "Os Pensadores", Abril Cultural 1974, pg 15)

terça-feira, 10 de julho de 2012

O tédio e a ociosidade na visão estética de mundo

"É sempre mais prudente guardar as próprias regras de prudência para si mesmo. Discípulos, portanto, não os quero, mas se talvez alguém estiver presente no meu leito de morte, e se eu estiver certo do meu fim, talvez acabe em um surto delirante de filantropia por sussurrar-lhe meus ensinamentos, sem saber se com isso fiz-lhe um serviço ou um desserviço. Há tanta falação sobre o homem ser um animal social; basicamente ele não passa de uma besta predadora, como se pode assegurar considerando-lhe os dentes.

Então, toda essa balela de sociabilidade é, em parte, só hipocrisia herdada, em parte, um engano calculado. As pessoas são, sem exceção, chatas, entediantes. A palavra em si indica porém a possibilidade de uma subdivisão. 'Entediante' pode ser dito daquela pessoa que entedia os outros assim como pode ser dito daquele que entedia a si mesmo. Quem entedia os outros são os plebeus, a grande massa, o trem sem fim da humanidade em geral. Quem entedia a si mesmo são os nobres, os eleitos; e - que curioso - quem não entedia a si mesmo entedia aos outros e quem entedia a si mesmo diverte aos outros. Aqueles que não se entediam são aqueles que estão ocupados no mundo de um jeito ou de outro, e que justamente por isso são tão entediantes, os mais chatos de todos. Esta espécie de vida animal com certeza não é fruto do desejo do homem ou do prazer da mulher. Como todas as outras formas de vida inferior, é caracterizada pelo alto grau de fertilidade e multiplica-se sem limite. É inconcebível também que a natureza precise de nove meses para produzir tais criaturas que se poderia supor serem produzidas a granel. A outra classe de seres humanos, os eleitos, são aqueles que entediam a si mesmos. Normalmente eles divertem ao povo: quanto mais profundo o seu tédio consigo mesmo, mais poderoso se torna uma fonte de diversão para os outros; até que o tédio atinge seu ápice, seja por se morrer de tédio (forma passiva) ou por enfiar-se uma bala na cabeça só por curiosidade (forma ativa).

Diz-se que a ociosidade é a causa de todo mal. Para preveni-la recomenda-se o trabalho. Porém é fácil ver, do remédio prescrito e da causa temida, que todo este ponto de vista é completamente plebeu. A ociosidade em si não é de nenhuma forma a fonte do mal; pelo contrário, a ociosidade é verdadeiramente um modo de vida divino, desde que não seja corrompida pelo tédio. Certamente a ociosidade pode levar-lhe à falência, mas de tais coisas o homem de natureza nobre não tem medo; o que ele teme é o tédio. Os deuses do Olimpo não eram entediados, eles prosperavam em feliz ociosidade. Uma bela jovem que não dança, nem cozinha, nem lê, nem produz música, é feliz em sua ociosidade porque não é entediada. Então, longe da ociosidade ser a raiz de todo mal, ela é o verdadeiro bem. A fonte do mal é o tédio, e é ele que deve ser mantido longe. Pode-se dizer que aquele que não aprecia a ociosidade ainda não se elevou a nível humano. Há um tipo de atividade sem descanso, que mantém a pessoa longe do mundo do espírito, colocando-a em uma mesma classe com os animais, na qual por instinto ele deve sempre seguir marchando em frente. Assim, encontram-se essas pessoas com um dom extraordinário para transformar tudo em negócio, cuja própria vida é um negócio, que se apaixonam e casam e escutam uma piada e admiram uma obra de arte com o mesmo sentimento zeloso de negociante que possuem quando estão no escritório. O proverbio latino otium est pulvinar diaboli [a ociosidade é o travesseiro do diabo] é perfeitamente correto, mas quando não se está entediado, o diabo não tem tempo de agarrar tal travesseiro. Na medida em que as pessoas pensam que é característico do homem o trabalho, a ociosidade e a produção são propriamente opostas a si mesmas. Minha própria assunção é que a característica do homem é divertir a si mesmo; meus opostos são portanto não menos corretos."

Soren Kierkegaard
(Traduzido livremente de "Either/Or: A Fragment of Life", Alastair Hannay (trad.), Penguin Classics 2004, Kindle Location 3810 - Cap. 6)



segunda-feira, 9 de julho de 2012

Prisoner of Life!



"If you're looking for a rainbow
You know there's gonna be some rain
One minute
you're filled with happiness
Next minute there's nothing but pain


When you're a prisoner
And I'm a prisoner
I'm a prisoner of life


One day your man is here
The next day
he's walked out and gone
But no matter what happens
You simply somehow
gotta carry on


When you're a prisoner
And I'm a prisoner
I'm a prisoner oflife


Life's good
It's bad
It's somewhere in between
But it's the unexpected
and the uncertainty
That keeps us goin'
You know what I mean


Yesterday you owned the world
The next day the world owns you
One day everything's a lie
The next day
you swear it's all true


That's what happens
when you're a prisoner
And I'm a prisoner
I'm a prisoner of life


Life's good
It's bad
It's somewhere in between
But it's the unexpected
and the uncertainty
That keeps us goin'
You know what I mean


Yesterday you owned the world
The next day the world owns you
One day everything's a lie
The next day
you swear it's all true


when you're a prisoner
And I'm a prisoner
Yeah, I'm a prisoner of life!"

Annie Ross cantando "Prisoner of Life" no filme de Robert Altman "Short Cuts" (1993).

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Quando o apoio moral é tiro no pé

"Tal é o caso do matrimônio, de modo que não é nada surpreendente que ele seja enrijecido de tantas formas com apoio moral. Quando um marido quer se divorciar, as pessoas gritam "Ele é desprezível, um canalha!", etc. Que estupidez, e que ataque indireto ao matrimônio! Ou o matrimônio tem valor em si, e neste caso o marido é suficientemente punido por desistir dele; ou ele não tem valor em si, e neste caso é absurdo acusá-lo desta forma por agir sabiamente. Se um homem se cansa do seu dinheiro e joga tudo pela janela, ninguém irá chamá-lo de canalha; pois ou o dinheiro tem valor, e então ele é suficientemente punido por privar-se dele, ou não tem valor, e ele é sábio."

Soren Kierkegaard
(Traduzido livremente de "Either/Or: A Fragment of Life", Alastair Hannay (trad.), Penguin Classics 2004, Kindle Location 3957 - Cap. 5)

quarta-feira, 4 de julho de 2012

O difícil na filosofia

"A experiência mostra que não é nem um pouco difícil para a filosofia começar. Longe disso: ela começa com nada e pode assim sempre começar. O que parece ser muito difícil à filosofia e aos filósofos é parar."

Soren Kierkegaard
(Traduzido livremente de "Either/Or: A Fragment of Life", Alastair Hannay (trad.), Penguin Classics 2004, Kindle Location 945 - Cap. 1)


terça-feira, 3 de julho de 2012

O bloco desforme

"Assim como se passou com Parmeniscus, que conta-se ter perdido, na caverna de Trophonius, a habilidade de rir e depois tê-la recuperado em Delos ao ver um bloco desforme que supostamente era a imagem da deusa Leto, assim passou-se também comigo. Quando eu era muito jovem, esqueci na caverna de Trophonius como rir; quando me tornei mais velho e abri os olhos para a realidade comecei a rir e não parei desde então. Eu vi que o sentido da vida era encontrar meios de sobreviver, que o objetivo maior era um cargo de titular, que o desejo supremo do amor era assegurar-se para si alguma "garota de bem", que a benção da amizade era a ajuda financeira em tempos de dificuldade, que a sabedoria era aquilo decidido pela maioria, que o entusiasmo era proferir um discurso, que a coragem era arriscar dez dólares, que a cordialidade consistia em dizer "sejam bem-vindos" em um jantar, que temer a Deus era comungar uma vez por ano. Isto foi o que eu vi, e eu ri."

Soren Kierkegaard
(Traduzido livremente de "Either/Or: A Fragment of Life", Alastair Hannay (trad.), Penguin Classics 2004, Kindle Location 871 - Cap. 1)

segunda-feira, 2 de julho de 2012

O Amor e a Angústia

"Oderint, dum metuant [que me odeiem, contanto que me temam], como se o temor e o ódio fossem conexos, e o temor e o amor estranhos um ao outro, como se não fosse o temor que torna o amor interessante. Que é afinal o nosso amor pela natureza? Não existirá nele um misterioso fundo de angústia e horror, por que por trás da sua bela harmonia se encontram a anarquia e uma desenfreada desordem, por trás da sua segurança, a perfídia? Mas é precisamente essa angústia que mais encanta, e o mesmo sucede ao amor, quando se pretende que este seja interessante. Por trás dele deve incubar a noite profunda, cheia de angústia, de onde desabrocham as suas flores. É assim que a nymphea alba, com a sua corola em forma de taça, repousa na superfície das águas, enquanto a angústia se apodera do pensamento que pretende mergulhar nas trevas profundas onde ela tem as suas raízes."

Soren Kierkegaard
(Em "O Diário de um sedutor", na edição de "Os Pensadores",  Carlos Grifo (trad.), Abril Cultural 1979, pg 165)

domingo, 1 de julho de 2012

Reinvenção do real

"De Cézanne a Picasso, chegou-se à desintegração da linguagem da pintura. Picasso esteve no limite, com suas figuras pateticamente desfiguradas. Já Marcel Duchamp, radical e niilista, embora continuasse a pintar, inventou o "ready-made" que, como o nome está dizendo, dispensa o fazer artístico. Noutras palavras, pintar seria desnecessário, pois o objeto real diria mais do que sua imagem pintada. Pura bobagem. A imagem pintada não diz mais nem menos do que o próprio objeto: diz outra coisa, porque o que a pintura diz o mundo real não diz. Por isso mesmo, afirmei certa vez que, se a arte existe, é porque a vida, a realidade, não basta. A arte não copia, e sim reinventa o real."

Ferreira Gullar
(Em sua coluna de hoje na Folha)