segunda-feira, 2 de julho de 2012

O Amor e a Angústia

"Oderint, dum metuant [que me odeiem, contanto que me temam], como se o temor e o ódio fossem conexos, e o temor e o amor estranhos um ao outro, como se não fosse o temor que torna o amor interessante. Que é afinal o nosso amor pela natureza? Não existirá nele um misterioso fundo de angústia e horror, por que por trás da sua bela harmonia se encontram a anarquia e uma desenfreada desordem, por trás da sua segurança, a perfídia? Mas é precisamente essa angústia que mais encanta, e o mesmo sucede ao amor, quando se pretende que este seja interessante. Por trás dele deve incubar a noite profunda, cheia de angústia, de onde desabrocham as suas flores. É assim que a nymphea alba, com a sua corola em forma de taça, repousa na superfície das águas, enquanto a angústia se apodera do pensamento que pretende mergulhar nas trevas profundas onde ela tem as suas raízes."

Soren Kierkegaard
(Em "O Diário de um sedutor", na edição de "Os Pensadores",  Carlos Grifo (trad.), Abril Cultural 1979, pg 165)