"Oderint, dum metuant [que me odeiem, contanto que me temam], como se o temor e o ódio fossem
conexos, e o temor e o amor estranhos um ao outro, como se não
fosse o temor que torna o amor interessante. Que é afinal o nosso
amor pela natureza? Não existirá nele um misterioso fundo de
angústia e horror, por que por trás da sua bela harmonia se
encontram a anarquia e uma desenfreada desordem, por trás da sua
segurança, a perfídia? Mas é precisamente essa angústia que mais
encanta, e o mesmo sucede ao amor, quando se pretende que este
seja interessante. Por trás dele deve incubar a noite profunda, cheia
de angústia, de onde desabrocham as suas flores. É assim que a
nymphea alba, com a sua corola em forma de taça, repousa na
superfície das águas, enquanto a angústia se apodera do
pensamento que pretende mergulhar nas trevas profundas onde ela
tem as suas raízes."
Soren Kierkegaard
(Em "O Diário de um sedutor", na edição de "Os Pensadores", Carlos Grifo (trad.), Abril Cultural 1979, pg 165)