sábado, 29 de janeiro de 2011

Respeito e Democracia

"Não há dúvidas que as comunidades conservam-se porque dividem formas de vida e crescem desenvolvendo-se por mimetismo. Os seres humanos, de fato, assemelham-se mais do que se diferem e descobrem o melhor das suas semelhanças quanto mais se destacam do seu mundo particular, sem com isso renunciar à própria potência. Mas assemelhar-se não significa ter a mesma idéia, pertencer aos mesmos grupos, e sim ter respeito uns pelos outros enquanto membros de uma comunidade comum. Ora, respeito significa certamente a não violação e invasão do espaço dos outros, mas não se limita de nenhum modo a este único aspecto. Tudo isto é-nos de difícil compreensão porque temos uma noção demasiadamente jurídica de 'responsabilidade'. Como já disse, 'responsabilidade' não significa apenas prestar contas do que se faz a um outro - o que equivaleria a uma simples imputabilidade - mas significa, acima de tudo, a obrigação de responder às demandas do outro enquanto outro, enquanto igual. De fato, cada ser humano é sempre para o outro uma pergunta. E dar resposta a esta pergunta exige que se preste atenção à voz do outro. A atenção, porém, por sí só, não basta: é necessário levar a palavra do outro a sério, inclusive ao pondo de fazê-la valer como uma lei para si próprio. É claro que este levar a sério não implica em concordar. Dos outros pode-se sempre discordar, o que não se pode fazer é subestimá-los. Mesmo assim, é uma conduta difusa hoje deixar que se fale, sendo que aquilo que nos é dito 'entra por um ouvido e sai por outro'. Ora, um aspecto da democracia - e não tanto como sistema político mas como prática de vida - é aquele de se reconhecer falível. Por isso à democracia impõe-se uma contínua ação de controle e revisão do próprio sistema: uma democracia é fortemente a risco se perde a consciência da própria falibilidade. Todos podemos errar, e portanto é dever de todos corrigir-se reciprocamente. (...) Podemos mostrar compreensão por quem erra, mas isso não significa de modo algum camuflar o erro que deve, ao contrário, ser evidenciado - e sem meias palavras! - para que quem errou possa ver melhor sua postura. A correção recíproca é um modo de aperfeiçoar-se."

Salvatore Natoli
(Traduzido livremente de "Il Buon uso del Mondo", Mondatori 2010, pg 247)