terça-feira, 24 de abril de 2012

Felicidade impossível

"Como vemos, o que decide o propósito da vida é simplesmente o programa do princípio do prazer. Esse princípio domina o funcionamento da psiquê desde o início. Não pode haver dúvida sobre sua eficácia, mesmo que tal programa esteja em desacordo com o mundo inteiro, tanto com o macrocosmo quanto com o microcosmo. Não há possibilidade alguma de ele ser executado até o fim; todas as leis do universo são contrárias a ele. Ficamos inclinados a dizer que a intenção do homem em ser ‘feliz’ não se acha incluída no plano da ‘Criação’. O que chamamos de felicidade no sentido mais restrito provém da satisfação (de preferência instantânea) das maiores necessidades, satisfação esta que é, por sua natureza, possível apenas como um evento esporádico. Quando uma situação desejada pelo princípio do prazer se prolonga no tempo, ela produz somente um ligeiro sentimento de contentamento. Somos assim feitos de modo a só podermos encontrar prazer intenso a partir de um contraste e muito pouco de um estado de coisas."

Sigmund Freud
(Traduzido livremente de "Civilization and its discontents", W.W.Norton 1962, pg 23)