segunda-feira, 2 de abril de 2012

Del Giudice, literatura, risco e verdade

"Del Giudice contou que, quando começou a escrever 'Lo Stadio di Wimbledon', ele desejava conservar na narrativa a ideia de Bazlen segundo a qual 'já não é possível seguir escrevendo', mas ao mesmo tempo buscava dar a esta negação um giro completo. Sabia que desse modo ele conferiria mais tensão ao seu relato. O que acabou acontecendo a Del Giudice no final de seu romance é fácil de adivinhar: ele viu que todo o livro não era mais do que a história de uma decisão: a de escrever. Incluiu momentos no libro nos quais Del Giudice, através da boca de uma velha amiga de Bazlen, maltrata com extrema crueldade o mítico ágrafo: 'Era maléfico. Passava o tempo a se ocupar do viver alheio, das relações dos outros: em suma, um fracassado que vivia a vida dos demais.' E em outro lugar do romance o jovem narrador fala nestes termos: 'Escrever não é importante, mas não se pode fazer outra coisa'. Deste modo o narrador proclama uma moral que é exatamente contrária àquela de Bazlen. 'Quase timidamente - escrevera Patrizia Lombardo - o romance de Del Giudice opõe-se aos que culpabilizam a produção literária, arquitetônica, por todos os que veneram o silêncio de Bazlen. Entre a futilidade da pura criatividade artística e o terrorismo da negatividade, quiçá haverá um lugar para algo diferente: a moral da forma, o prazer de um objeto bem feito.'

Eu diria que para Del Giudici escrever é uma atividade de alto risco, e neste sentido, no estilo de seus ídolos Pasolini e Calvino, entende que a obra escrita está fundada no nada e que um texto, se quer ter validade, deve abrir novos caminhos e tratar de dizer o que ainda não se disse. Creio que estou de acordo com Del Giudice. Quando se usa a língua para simplesmente obter um efeito, para não ir além do que nos está permitido, incorre-se, paradoxalmente, em um ato imoral. Em "Lo Stadio di Wimbledon" tem-se, por parte de Del Giudice, uma busca ética precisamente na sua luta por criar novas formas. O escritor que trata de ampliar as fronteiras do humano pode fracassar. Em troca, o autor de produtos literários convencionais nunca fracassa, não corre riscos, basta-lhe aplicar a mesma fórmula de sempre, sua forma de acadêmico acomodado, sua fórmula de ocultamento."

Enrique Vila-Matas
(Traduzido livremente de "Bartebly y compañia", Anagrama 2000, nota 7)