quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O sonho vão do idealista

"Parte do desafio que idealistas como Hegel e Fichte nos propõem é dizer 'Bem, se você afirma que estes dois modos distintos de falar são ambos descrições da mesma realidade, então descreva esta realidade como ela é, independentemente dos nossos modos de usar a linguagem'. Mas quem disse que a realidade pode ser descrita independentemente das nossas descrições? E por que o fato da realidade não poder ser descrita independentemente das nossas descrições deve nos levar a supor que na verdade tudo o que há são descrições? De acordo com nossas próprias descrições, a palavra 'quark' é uma coisa enquanto um quark é uma outra coisa bem diferente. (...) Enquanto continuarmos pensando que a realidade em si mesma, se vista com suficiente seriedade metafísica, irá determinar o modo como nós devemos usar palavras como 'objetos' e 'propriedades', não seremos capazes de ver como o número e tipo de objetos e de suas propriedades podem variar de uma descrição correta da situação a outra descrição correta da mesma situação. Apesar das nossas proposições 'corresponderem à realidade' no sentido de descreverem a realidade, elas não são meras cópias da realidade. A idéia que algumas descrições são 'descrições da realidade em si mesma, independentemente da nossa perspectiva' é uma quimera. Nossa linguagem não pode ser dividida em partes, uma que descreve o mundo 'como ele é' e outra que descreve nossa contribuição conceitual. Mas isto não significa que a realidade está escondida, é 'numenica'; significa simplesmente que você não pode descrever o mundo sem descrevê-lo."

Hilary Putnam 
(Traduzido livremente de "Renewing Philosophy", Harvard Univ. Press, 1992, pg 122-123)