segunda-feira, 4 de junho de 2012

O labirinto do consumo

"É perverso falar de pessoas florescendo quando não se tem comida ou abrigo. E este ainda é o caso de bilhões vivendo nos países em desenvolvimento. Mas é também óbvio que equacionar de modo simplista quantidade com qualidade, mais com melhor, é falso em geral. As coisas, em si mesmas, não nos ajudam a florescer. E algumas vezes elas podem inclusive nos impedir de fazê-lo. 

Uma vida próspera está relacionada, em parte, com nossa capacidade de dar e receber amor, de desfrutar do respeito de nossos amigos, de ser útil à sociedade, de ser parte de uma comunidade, de ajudar a criar a esfera social e encontrar nela um local seguro. Em resumo, uma componente importante da prosperidade é a habilidade de participar com sentido na vida da sociedade. Estas são tarefas primordialmente sociais e psicológicas. A dificuldade que se apresenta hoje é que a sociedade de consumo apropriou-se de muitos bens materiais e processos colocando-os em serviço de questões que não são materiais. A nossa certamente não é a primeira sociedade a dar significado simbólico a coisas. Mas somos os primeiros a entregar tanto do nosso funcionamento social e psicológico à causa materialista. Nosso sentimento de identidade, nossas expressões de amor, nossa busca por significado e propósito; mesmo nossos sonhos e desejos são articulados com a linguagem do consumo. As questões mais fundamentais que fazemos sobre o mundo e nosso lugar nele são feitas através do consumismo. O acesso ilimitado a bens materiais está por nossos sonhos de liberdade. E por vezes mesmo por sonhos de imortalidade. 

'O animal humano é uma besta que morre e se ele tem dinheiro ele compra e compra e compra,' diz Big Daddy na peça de Tennessee Williams de 1955, 'Gato em Telhado de Zinco Quente'. 'E eu acho que o motivo de ele comprar tudo que pode é que dentro de sua cabeça ele tem essa esperança maluca de que uma dessas compras lhe dará vida eterna'. Aqui também a ilusão governa. É claro que os bens materiais trazem novidades em nossas vidas. É claro que eles nos confortam e dão-nos esperança. É claro que eles conectam-nos com aqueles que amamos e com quem tentamos nos relacionar. Mas estas conexões são, no melhor dos casos,  passageiras. Elas são tão capazes de nos impedir a prosperar do que de a facilitar-nos nesta busca. Com o tempo, elas evanescem e são distorcidas. A sua promessa no fim mostra-se embasada em nada. Esta é a sabedoria que sábios de tempos imemoráveis tentaram nos passar. E não enfraqueceu ao longo dos anos. Apenas foi diluída por nosso bem-estar material. E é cada vez mais e mais difícil ver-se onde está o verdadeiro bem-estar. Distinguir o que importa do que brilha. Estamos presos em um labirinto de abundância, destinados a permanecer lá até que o feitiço seja quebrado. Quando ele for, estaremos perdidos."

Tim Jackson
(Traduzido livremente de "Prosperity Without Growth", Earthscan 2009, pg 189-190)