terça-feira, 26 de junho de 2012

A necessidade de acordar deste pesadelo de liberdade

"Até o 11 de setembro, tínhamos liberdade para desejar o quê? Bagatelas, mixarias. Uma liberdade vagabunda para nada, para o exercício de um narcisismo ilusório, o fetiche de uma liberdade transformada em produto de mercado. A gente pode se drogar, se suicidar, sofrer, mas repensar o mundo na prática, essa 'macroliberdade' é impossível; ela é privilégio das grandes corporações, que podem planejar o Sistema, eliminando regras nacionais, podem se fundir em megaconglomerados, pois elas têm a desculpa de não terem rosto. Aliás, até o Mal ficou difuso. Onde está o mal, hoje? Entre os terroristas, no meio da miséria, entre fezes? O Mal ficou arcaico. Por isso, o mal dos terroristas consiste em injetar o arcaico no moderno, esse inferno 'clean' que o capital inventou. E não adianta tentar a "beleza do Mal" como busca invertida do Bem. Já foi tentado: o culto à perversão, à violência ideológica, à crueldade por 'bons' motivos, tudo. Nada deu em nada.

[...]

Precisamos de uma forma nova de "transcendência", abolida pelo consenso tecnocientífico; precisamos de um novo "holismo". Uma nova liberdade se tornou urgente, a liberdade de não ser moderno, de não ser tão 'livre' assim como quer o mercado. Precisamos de um ideário que acrescente alguma inutilidade ao mundo, pois o futuro foi apossado pelo marketing dos novos produtos. Precisamos de fatos, e não de expectativas, precisamos de um conjunto orgânico de verdades (ou de crenças mesmo) que espiritualize nosso vazio. Osama, como um profeta de cabeça para baixo, nos lembrou que a vida real é um mistério."

Arnaldo Jabor
(Em sua coluna de hoje no Estadão)