domingo, 29 de maio de 2011

Sobre a possibilidade da Ironia

"Já que as palavras não correspondem às coisas de modo exato, mas fazem um sistema semi-independente [o 'semi' é bem importante], haverá sempre um tipo de gap entre as descrições e a realidade, ou entre uma linguagem e a próxima. Por exemplo, é impossível traduzir a frase relativamente simples 'the pastoral function of the ministry' [a função pastoral do ministério] diretamente para o francês, pois a palavra francesa para 'ministro' é pasteur [pastor]. Como 'la fonction pastorale du pastorat' [a função pastoral do pastorado] simplesmente soa como uma tautologia, e perdeu o sentido que tinha em inglês, torna-se necessária uma paráfrase mais bem elaborada. (...) É precisamente a percepção deste gap inevitável entre palavras e significado, descrição e realidade, que torna a ironia não somente possível, mas quase inevitável nos escritos dos últimos 200 anos."

Stephen Prickett
(Traduzido livremente de "Narrative, Religion and Science", Cambridge 2004, pg 50-51)