segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Perfeição imperfeita (na arte mas também na moral!)

"É por tudo isso que gosto de ouvir Schubert enquanto dirijo. Porque, conforme já disse, quase todas as execuções [das obras de Schubert] contém alguma forma de imperfeição. E imperfeições de boa e densa qualidade artística estimulam a consciência, despertam a atenção. Se eu dirigisse ouvindo uma execução perfeita de uma obra também perfeita talvez me viesse a vontade de fechar os olhos e morrer. Mas ao ouvir a Sonata em ré maior, detecto em vez disso os limites da diligência humana. E então compreendo que certo tipo de perfeição só se atinge pelo infinito acúmulo de imperfeições. E isso me dá coragem. Está entendendo o que eu digo?"

Haruki Murakami
("Kafka à Beira-mar", Trad. Leiko Gotoda, Alfaguara 2010, pg 33)