quarta-feira, 15 de junho de 2011

Verdade e critério de Verdade

"Frequentemente afirma-se que eu não posso de nenhum modo distinguir o que é verdade do que eu penso ser verdade: e isto é verdade. Mas mesmo que eu não possa distinguir o que é verdade do que eu penso que é verdade, sempre posso distinguir o que pretendo significar ao dizer que é verdade do que eu pretendo significar ao dizer que eu penso que é verdade. Pois eu entendo o significado da suposição que aquilo que eu penso ser verdade pode ser falso. Quando, portanto, eu afirmo que é verdade eu quero afirmar algo distinto da proposição que afirma que eu penso que é verdade. O que eu penso, a saber algum fato verdadeiro, é sempre completamente distinto do fato de eu pensá-lo. A afirmação que algo é verdade nem mesmo inclui a afirmação que eu penso que é verdade; mesmo que, é claro, sempre que eu penso que algo é verdade, é, de fato, também verdade que eu penso que é verdade. Esta proposição tautológica, que para uma coisa ser pensada como verdadeira é necessário que ela seja pensada de um determinado modo, é mesmo assim frequentemente identificada com a proposição que afirma que para uma coisa ser verdadeira ela deve ser pensada de algum modo. (...) Que ser verdade significa ser pensado de um determinado modo é certamente falso. E, porém, esta afirmação joga um papel absolutamente essencial na "revolução Copernicana" de Kant e torna toda a massa da literatura moderna produzida na trilha de tal revolução, a chamada Epistemologia Moderna, completamente imprestável. (...) É claro que a única conexão que pode haver entre ser verdadeiro e ser pensado de determinado modo é que este último venha a ser um critério ou teste do primeiro. Mas para se estabelecer isto, seria necessário estabelecer, por métodos de indução, que aquilo que é verdade é sempre pensado de determinado modo. A Epistemologia Moderna dispensa esta longa e difícil investigação com o custo da assunção auto-contraditória que a verdade e o critério da verdade são uma e a mesma coisa."

G. E. Moore
(Traduzido livremente de "Principia Ethica", par. 80, 1903)