sábado, 11 de junho de 2011

Insatisfação Epistêmica

"Agora, pode-se dizer que isso tudo é muito insatisfatório. E é de fato; porém é importante distinguir duas razões diversas de insatisfação. É insatisfatório porque não somos capazes de provar o que afirmamos? ou é insatisfatório meramente porque não concordamos uns com os outros? Estou inclinado a pensar que a última é a verdadeira razão. Pois, o mero fato de, em alguns casos, uma prova ser impossível, não nos dá nenhuma razão para insatisfação. Por exemplo, ninguém pode provar que há uma cadeira aqui do meu lado; porém, não penso que haja alguém insatisfeito por esta razão. Todos concordamos que isto é uma cadeira, apesar de ser possível que estejamos todos errados. Um louco, é claro, poderia entrar nesta sala e dizer que não é uma cadeira, mas um elefante. Não poderíamos provar que ele está errado, e o fato de ele não concordar conosco, este sim poderia começar a nos deixar inquietos. Ainda mais inquietos se alguém que acreditamos não ser louco discordasse de nós sobre esta cadeira. Deveríamos então tentar argumentar com ele, e provavelmente estaríamos completamente satisfeitos se fizéssemos com que ele concordasse conosco mesmo sem que tenhamos nisto provado nosso ponto. Podemos apenas persuadi-lo mostrando que nossa visão é consistente com alguma outra coisa que ele afirma ser verdade, enquanto sua visão original é contraditória com relação a esta outra sua afirmação. Mas é impossível provar a verdade de algo que concordamos. Em resumo, nossa insatisfação nestes casos é como aquela sentida pelo pobre lunático: eu digo que o mundo está louco, diz ele, o mundo diz que eu estou louco; e eles são maioria. É sempre um desses desacordos, e não a impossibilidade de prova, que nos leva a chamar a situação de insatisfatória. De fato, quem pode provar que a prova, ela mesma, é garantia de verdade? Todos nós concordamos com as leis da lógica e, portanto, aceitamos um resultado que é provado por meio delas; mas tal prova é satisfatória para nós somente porque todos nós concordamos com seu caráter de garantia de verdade. E, apesar disso, não podemos de nenhum modo provar que estamos certos em assim concordarmos."

G. E. Moore
(Traduzido livremente de "Principia Ethica", par. 45, 1903)