domingo, 9 de outubro de 2011

O deus desencarnado dos filósofos

"Princípios eternos comandam a nossa conduta: a Verdade, a Justiça, a Razão, enfim. Eis o novo deus. O Ser supremo que legiões de moças vêm adorar, ao festejarem a Razão, não é mais que o deus antigo, desencarnado, bruscamente cortado de quaisquer amarras com a terra, e que foi solto, como um balão, no céu vazio dos grandes princípios. Privado de seus representantes, de qualquer intercessor, o deus dos filósofos e dos advogados tem apenas o valor de demonstração. Na realidade, ele é bem fraco e compreende-se por que Rousseau, que pregava a tolerância, achava contudo que era preciso condenar à morte os ateus. Para adorar por muito tempo um teorema, não basta a fé, é preciso ainda uma polícia."

Albert Camus
(Em "O Homem Revoltado", trad. , Valerie Rumjanek, Record 2010, pg 149)