segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A ficção da ciência da consciência

"O ponto chave dos meus argumentos contra as 'teorias da identidade' (incluindo a minha antiga teoria funcionalista) é que a noção de identidade não possui nenhum sentido neste contexto. Não podemos, por exemplo, aplicar o modelo de identificação teórica, como aquele da famosa redução da termodinâmica à mecânica estatística, porque este modelo assume que ambas, a entidade reduzida e a teoria que reduz, obedeçam leis físicas bem estabelecidas (tal que a proposta identidade, por exemplo, 'temperatura é energia cinética média', possa ser testada monstrando-se que se a assumirmos, as leis da teoria reduzida - termodiâmica - poderão ser derivadas das leis da teoria que reduz - mecânica estatística). Não podemos perguntar se as leis da 'folk psychology' são ou não são derivadas de algum conjunto de identidades entre os atributos da psicologia e algumas propriedades computacionais, porque a noção de uma 'propriedade computacional' depende essencialmente de qual formalismo o 'programa' é escrito, e ninguém tem a menor idéia sobre qual formalismo poderia fazer esse tipo de redução. Enquanto não dermos um sentido preciso para uma 'propriedade computacional' neste contexto, todo esse papo de funcionalismo é ficção científica. Nenhuma discussão séria e científica foi levantada."

Hilary Putnam
(Traduzido livremente de "The threefold cord: mind body and world", Columbia Univ. Press 1999, pg 85)