terça-feira, 13 de setembro de 2011

Revoltar-se, agindo ou não!

"Fazer. Fazer algo. Fazer o bem, fazer mais, fazer tempo, a ação em todas suas formas. Mas por trás de toda ação havia um protesto, porque todo fazer significa um sair de para chegar a, ou  mover algo para que esteja aqui e não ali, ou entrar nessa casa em vez de não entrar ou entrar na casa ao lado, em todo ato havia a admissão de uma carência, de algo ainda não feito e que era possível de ser feito, o protesto tácito frente à contínua evidência de falta, da escassez do presente. Crer que a ação podia culminar, ou que a soma das ações podia realmente equivaler a uma vida digna deste nome, isto sim era uma ilusão de moralista. Mais valia renunciar, pois a renuncia à ação era o próprio ato de revolta e não sua máscara."

Julio Cortazar
(Traduzido livremente de "Rayuela", Sudamericana 1963, pg 18)