terça-feira, 6 de setembro de 2011

A andorinha e os rios metafísicos

"Em rios metafísicos, ela nada como essa andorinha está nadando no céu, girando alucinada em torno ao campanário, deixando-se cair para levantar-se melhor com o impulso. Eu descrevo e defino e desejo esses rios, ela neles flutua. Eu busco-os, encontro-os, olho-os de cima da ponte, ela neles nada. E não sabe, assim como a andorinha. Não necessita saber como eu necessito, pode viver em desordem sem que nenhuma consciência de ordem a retenha. Essa desordem que é sua ordem misteriosa, essa boemia do corpo e alma que a ela abre as verdadeiras portas." 

Julio Cortazar
(Traduzido livremente de "Rayuela", Sudamericana 1963, pg 79)