quarta-feira, 13 de abril de 2011

O oceano das ondas que continuam ondas para sempre

"O mundo sem ele significará o fim da ansiedade? Um mundo em que as coisas ocorrem independentemente da sua presença e das suas reações, seguindo uma lei ou necessidade ou razão que não diz respeito a ele? Quebra a onda sobre as pedras e cava a rocha, uma outra onda sucede-se, uma outra, ainda uma outra, que ele esteja ou não esteja, tudo continua a acontecer. O alívio de se estar morto deveria ser isso: eliminada aquela mancha de inquietude que é a nossa presença, a única coisa que conta é o estender-se e o suceder-se das coisas debaixo do sol, em uma impassível serenidade. Tudo é calma ou tende à calma, também os furacões, os terremotos, as erupções de vulcões. Mas não era já este o mundo quando ele era ali? Quando cada tempestade trazia em si a paz do porvir, preparava o momento no qual todas as ondas teriam já batido na costa e o vento teria já exaurido sua força? Talvez estar morto é permanecer no oceano das ondas que continuam ondas para sempre. É portanto inútil esperar que o mar se acalme."

Italo Calvino
(Traduzido livremente de "Palomar")