segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Meia-velocidade

"- Por agora você deve estar então bem cansado.
- Não, eu disse. Cansado, não. Mas eu lhe direi, Capitão Giles, como estou me sentindo. Eu me sinto velho. E devo estar. Todos vocês aqui em terra me parecem um bando de rapazolas levianos que nunca souberam o que é uma preocupação na vida.
   Ele não sorriu. Manteve uma expressão insuportavelmente exemplar. E declarou:
- Isto passa. Mas você parece mais velho - é fato.
- Aha! eu disse.
- Não! Não! A verdade é que não se deve dar importância demais a nada na vida, bom ou ruim.
- Viver a meia-velocidade, murmurei perversamente - nem todos conseguem fazê-lo.
- Logo você estará satisfeito se conseguir tocar mesmo nesse passo, ele retorquiu com seu ar de virtude consciente. - E há mais uma coisa: um homem deveria enfrentar sua má sorte, seus erros, sua consciência, e todas essas coisas. - Ora - o que mais há para se combater?
   Eu fiquei quieto. Não sei o que ele viu no meu rosto, mas perguntou repentinamente:
- Ora - você não está desanimado?
- Só Deus sabe, Capitão Giles, foi minha resposta sincera.
- Está tudo certo, ele disse calmamente. - Você logo aprenderá a não ficar desanimado. Um homem tem que aprender tudo - e isso é o que tantos daqueles jovens não entendem. 
- Bem, eu não sou mais um jovem.
- Não, ele admitiu. "

Joseph Conrad
(Em "A Linha de Sombra", Maria Antonia Van Acker (trad.), Hermus 2003, pg 153-154)