segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Saber estudar (é saber viver)

"A 'techné' que Platão pensou ser a mais importante era a matemática, porque era a mais rigorosa e abstrata. Eu tomarei um exemplo de uma 'techné' mais próxima de mim: aprender uma língua. Se estou aprendendo, por exemplo, Russo, sou confrontada com uma estrutura de autoridade que me impõe respeito. A tarefa é difícil e o objetivo é distante e talvez nunca completamente atingível. Meu trabalho é uma revelação progressiva de algo que existe independentemente de mim. A atenção é recompensada pelo conhecimento da realidade. O amor do idioma leva-me para longe de mim mesmo, em direção a algo estranho, algo que minha consciência não é capaz de dominar, engolir, negar ou dissolver. A honestidade e humildade requerida do estudante - não pretender conhecer o que não conhece - é a preparação para a honestidade e humildade do acadêmico que nem mesmo sente a tentação de suprimir os fatos que são contrários a sua teoria. É claro que a techné pode ser mal usada; um cientista pode até sentir que deve abandonar sua área de pesquisa se souber que suas descobertas seriam usadas para o mau. Mas excetuando-se estes contextos especiais, estudar é normalmente um exercício de virtude assim como de talento, e mostra-nos um modo fundamental através do qual a virtude está relacionada com o mundo."

Iris Murdoch
(Traduzido livremente de 'The Sovereignty of Good', Routledge 2009, pg87)