sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

A tarde nos olhos

"Olho, para disfarçar, os guris no tobogã. Meu sorriso interior, no entanto, fica em meio. Porque esses guris em breve vão perecer. Isto é, vão perder a infância, a inocência animal, para ganharem em troca, no mínimo, uma sonsice social. E ostentarão esse falso cinismo da adolescência, mais perdoável, aliás que o cinismo rancoroso dos velhos. Mas, por enquanto, ainda estão estragando por aí os fundilhos. E que brilho nas caras de maçãs, acesas na escorregadela a jato! A tarde mira-se nos seus olhos. Repara bem no que te digo: a tarde é que se mira nos seus olhos, que se limitam a refletir as coisas, em vez de refletir sobre as coisas. Eles estão na vida como peixes n'água: sem saber. E no mesmo contínuo movimento."

Mário Quintana
(Em "A Vaca e o Hipogrífio")